sábado, 26 de fevereiro de 2011

O iluminismo em Portugal




Com expressão mais acentuada a partir de 1740, as primeiras manifestações de participação da cultura nacional na dinâmica do pensamento iluminista remontam à actividade intelectual e académica de D. Rafael Bluteau e do 4.º Conde da Ericeira, D. Francisco Xavier de Meneses (Academias em Portugal), vindo a consolidar-se progressivamente através de outros marcos importantes. De entre eles cumpre destacar a instituição, sob os auspícios de D. João V, da aula de Física Experimental no Palácio das Necessidades, a cargo da Congregação do Oratório, assim como as lições de Filosofia proferidas, no seio da referida Congregação, pelo P. João Baptista e mais tarde impressas na sua obra Philosophia aristotelica restituía (1748). A década de 40 ficará, todavia, assinalada pela publicação de dois textos bem representativos do nosso iluminismo: a Lógica Racional Geométrica e Analítica, de Manuel de Azevedo Fortes, e o Verdadeiro Método de Estudar, de Luís António Verney. A polémica gerada em torno desta última obra constituiu um dos mais importantes momentos de afirmação do ideário das «Luzes», pois se revestiu de um papel dinâmico em que a discordância e a defesa, passadas a letra impressa, não deixariam de difundir o ideário principal do movimento em questão.

Coincidindo praticamente com a ascensão de Pombal, o iluminismo viria a adquirir em Portugal uma feição de Estado, no quadro do despotismo esclarecido, verificando-se, pois, uma clara aliança entre iluminismo e política. Neste contexto, o de uma profunda identificação com as ideias do Estado absoluto, devemos destacar, como momentos da sua afirmação, a publicação do De Suprema Regum, de António Pereira de Figueiredo, da Dedução Cronológica e Analítica, do Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771) e dos Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), assumindo a segunda e a terceira dessa obras um carácter nitidamente panfletário e ideológico, articulado com a tese dos estragos causados pela Companhia de Jesus.

Tal como os vários iluminismos europeus, a filos. sob o signo das «Luzes» revestiu-se, entre nós, do mesmo carácter omnicompreensivo e multidisciplinar, enquanto meio geral da compreensão, afirmando-se por uma via essencialmente polémica, alimentada através de uma contraposição sistemática entre épocas de «luz» e «trevas», aferidas pelo tribunal da razão. Nesse sentido, elegeu para alvo de crítica impiedosa o designado «Seiscentismo» e os seus protagonistas, a Companhia de Jesus, a respeito dos quais ergueu a tese da crise e decadência da cultura e das instituições, com o fim de se afirmar, perante o País, através de um ideal de salvação nacional. Foi nessa ambiência que veiculou, com a mesma intensidade, o optimismo presentista dos «Modernos», expresso em palavras-chave como o «progresso», a «razão» ou a «natureza». Tendo como suporte teórico o sensismo de Locke e a epistemologia de feição newtoniana, com a consequente oposição crítica ao designado «espírito de sistema» cartesiano (exceptuando o compromisso tentado por Azevedo Fortes), orientou-se por um ideal de reforma da vida do homem em sociedade e encontrou no eclectismo - alicerçado na atenção prestada à história da Filos. - a forma eficaz e crítica de constituição do seu ideário global e na pedagogia e na política os canais privilegiados da sua intenção reformista.

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